sábado, outubro 27, 2018



ÀS CINCO DA MANHÃ

Às cinco da manhã faço-te versos
no cais do meu olhar, ressalta espuma
às cinco da manhã, envolto em bruma
vens acender meus sonhos mais dispersos...

às cinco da manhã, trazes-me o mundo
perdido no etéreo em que acredito
e às cinco da manhã me precipito
no amor, no teu amor, onde me afundo...

às cinco da manhã, noite meada
quando a aurora rompe a madrugada
que principia, preguiçosa a ir embora

às cinco, a manhã parece alada!
Em ti, somente em ti, durmo enroscada
no sépia do meu sonho, como agora!

Maria Mamede







segunda-feira, outubro 15, 2018





..e são barcos os braços
quando pousam em terra firme
seus pés
afeitos às vagas
e remos
suas mãos, calosas e ternas
em noites de paixão;
o mar os trouxe, uma vez mais
e suas vidas são feitas
de idas e vindas
vida e morte lado a lado
sombra a sombra…
são barcos os braços
mas os olhos e a boca
são onda incessante
na praia-corpo
das mulheres do mar…



Maria Mamede

do livro "(A) MAR

quarta-feira, outubro 10, 2018





Amam com a força telúrica
do amanho do quintal
como quem leva o carreto de algas
para adubar a terra
fazendo crescer  hortaliças
e morangos
atrás da casa…
amam com a força
com que pegam na canastra
e vão pelas ruas
apregoando
o que o mar lhes depôs
no regaço
sobra duma noite  de luta…
amam
com o mesmo ranger de dentes
e os mesmo urros
com que se agacham
pra parir!


 Maria Mamede

(do livro (A)MAR)

sexta-feira, outubro 05, 2018



NÃO PROCURO A RIMA…

Não procuro rima…
escolho apenas
um poema
que diga do desespero
do logro
do desengano
da impotência
e vou juntando palavras
que falam por mim
pela minha voz 
agonizando na garganta.
não procuro rima…
o poema em verso
suavizaria esta revolta
que nasceu e cresce
dentro do meu peito
ao ver o meu País
verde e poeta
de joelhos
corda ao pescoço
como Egas Moniz
a hipotecar 
seu direito de sonhar
para saldar dívidas
que não fez!
Não, não procuro o verso!
A prosa é mais dura
e no caso, rima
com REVOLTA!...


Maria Mamede