sexta-feira, outubro 31, 2008

BALADA

Canto-te
na madrugada suave
rente ao chão da dor
na canção de embalar
que a cotovia escreve
em pautas de azul...
canto-te
na chuva miudinha
que o ocaso me oferece
como fossem lágrimas
por mim e por ti
nas ironias do poente...
canto-te
e pinto de harmonia
as intermitências do sopro
no amanhã do vendaval
enquanto é verão
e o inverno é futuro!...


Maria Mamede

sexta-feira, outubro 24, 2008

COLOS

Antigamente o colo era mais largo
tinha o aconchego duma ilha
amorosa ternura sem amargo
colo! Ontem de mãe, hoje de filha!

Hoje , é de ternura vigorosa
de força de viver, quando ela cansa
mas colo de doçura preciosa
na hora mais bravia e na mais mansa;

dois colos, dois amores, o mesmo encanto
o mesmo aconchego no quebranto
o mesmo refúgio noutra ilha

o novo colo seca o velho pranto
e ri, embala, afaga, é acalanto
ontem colo de mãe, hoje de filha!...


Maria Mamede

sexta-feira, outubro 03, 2008

CARTA A UM AMIGO QUE PARTIU

É outono outra vez!
As folhas mortas cobrem o chão
e um vento, agreste
vem falar de despedidas.
Hoje, vieram dizer-me
que tinhas partido...
será que voaste?!
É outono, outra vez!
E ainda há pouco
tu me falavas em primavera...
sei que o sol está mais fraco
e as andorinhas
já deixaram os nossos beirais;
talvez nalguma delas
tu achasses transporte
ou, quem sabe, andes por aí
feito menino
a brincar com a bola de trapos
ou a jogar ao pião
ou ao arco
na margem do rio
este que amamos
e te viu nascer...
é, decerto voaste!...
E eu tinha tanta, tanta coisa
para te dizer!...
Porém, as palavras, agora
deixaram de ser precisas;
o pensamento basta!
E também sei
que mais logo
quando a noite cair
neste nosso ilusório firmamento
há-de brilhar mais uma estrela!...


Maria Mamede

(Ao querido Amigo Fernando Peixoto)