terça-feira, outubro 26, 2010

A CASA SILENTE

Do livro acima, cujos poemas não têm título, deixo-vos um dos últimos.



Tal como os livros
a casa tem alma;
uma alma branca, livre
apesar de só à casa pertencer
e passeia-se por ela;
só eu consigo vê-la
e ser vista
e com ela travar diálogos
de almas
que não têm mais nada
para fazer…
por vezes, as almas dos livros
vêm juntar-se a nós
e contamo-nos coisas
intermináveis…
no entanto, quando alguém se aproxima
voltamos todas
aos nossos lugares
embora saibamos que ninguém
nos pode ver.
Hábitos antigos!
E logo voltamos às conversas
de antes
mal se oiça
a porta a fechar…
falamos dos donos
presentes e passados
e preocupámo-nos
com os futuros
e o seu possível amor
pela casa e pelos livros.
Por isso
raramente nos deixamos ver
a não ser por certas almas
tão brancas, tão transparentes
como nós
só que ainda usam “fato”…
e quero dar-vos um conselho:
- quando entrarem numa casa
silente, como esta minha
não se esqueçam de falar
com elas, mesmo só em pensamento
não vá acharem-vos loucos
e peçam-lhes
para usar o que nela existe;
e verão que tudo
mesmo tudo
sorrirá para vós!...

Maria Mamede

quinta-feira, outubro 14, 2010

nas encostas do tempo...

(O poema abaixo, faz parte duma mão cheia e mais alguns, a que dei um título comum...o acima indicado. Um dia destes, talvez sejam um livro...)





Contigo
os sábados
tinham as tardes mais bonitas
de Setembro
tardes mornas
pousadas nas encostas
e de amor ao colo
fazíamos cama
na velha manta de trapo
estendida
por cima das macelas…

Maria Mamede