segunda-feira, agosto 27, 2007

QUANDO EU FOR VELHA...

Quando eu for velha
vou viver somente de ternura
é ponto assente...
agora, ainda não
meu coração ausente
ainda tem paixão, muita paixão
a latejar...
por vezes é tanta, tão enorme
que o sinto disforme
de tanto aumentar.
Por isso, dentro em breve
eu prevejo
que o amor, AMOR
me dê o ensejo
de assentar arraiais
dentro do peito;
espero-o, sossegado
bem ao jeito
de amores da minha idade
sem loucuras
amor tranquilo, sereno
sem bravuras
como os filhos querem
ver nos pais...
será que sou capaz?
Amores "fatais"
já os vivi no tempo
da quimera
amores desespero
amores espera
de dor lancinante
e sem abrigo...
por isso digo
que novos amores
na minha idade
têm de ser de passeio
ao fim da tarde
ou antes do calor
de manhãzinha;
um abraço doce
de acalanto
um beijo de ternura
e no entanto
ainda um fogo lento
a arder em mim...
assim
a doses mais pequenas
ao sentir o olor das açucenas
acharei
que é tranquilidade
um amor que se dá
assim verdade
e meio ensolarado
assim descanso...
e então preparado
o caminho
na derradeira fase
o carinho
vai transformar o último passeio;
passo arrastado
o sol há-de encontrar
eu e mais alguém olhando o mar
e ternura, só ternura
como esteio!...


Maria Mamede

domingo, agosto 19, 2007

S/Título - (In NO CAIS DO TEMPO)

Quando amo
o meu amor é urgência
na granítica urgência da paisagem
e é fome e sede
e voragem
e prazer e dor
a um só tempo...
quando amo
eu quero esse momento
onde Vida e vida
são o todo
e quase não amo
doutro modo
nesse amor de fogo
com que amo...
e meu amor discreto
decoroso
não se manifesta
em exageros
em deslumbramento
apenas no toque
há sentimento
e no olhar
carícia desmedida...
depois
(tanto depois na minha vida)
no remanso da paisagem
seja ela qual for
é que me dou sem conta
sem medida
em doçura plena
a contraponto
interminável carícia
escondida
de olhares indiscretos
e ressaltam todos os afectos
nos puros instantes
da entrega...
e este amor urgência
é refrega
na plácida ternura
interminável;
e a rocha se abre
admirável
nessa beleza incontestável
dos corpos em cruz...
e do granito sai
urgente e bela
uma forma de anjo
ou de estrela
num indizível brilho
feito luz!...

Maria Mamede

quinta-feira, agosto 16, 2007

AÍ VEM A AURORA...

Quando penso na última viagem
E meu cabelo se agita, pela aragem
Que se levanta na espera de embarcar
Uma lágrima furtiva desce o rosto
E meu coração é fogo posto
Pela saudade dos que vou deixar...

E minha barca ao longe, se agiganta!
E eu choro e minha alma canta
Belas canções antigas, de embalar
Ó céus, ó mares, ó ventos, penedias
Adeus, adeus, que se findam meus dias
Na doce aurora que me vai levar...

Adeus ó fontes, regatos, ribeiras
Adeus vinhedos, campinas, ceifeiras
Adeus ó gente, meu povo, meu lar
Adeus aldeia, ó casa dos meus
Adeus amigos queridos, adeus
Aí vem a aurora para me levar!...


Maria Mamede

domingo, agosto 12, 2007

É DE SILÊNCIO O NOME...

É de silêncio
o nome que te chamo
meu amor sem nome
conhecido
dum silêncio que grita
em meu ouvido
enta ânsia dor
com que te amo!
É de sede o beijo
que te ofereço
desta imensa sede
que é tortura
esta falta de água
esta amargura
pela falta dessa boca
que reclamo!
É de fome o abraço
que te peço
da fome de quem vem
doutras paragens
dessa de quem fez
tantas viagens
é de fome o abraço
que te peço!
É de sonho a vida
que procuro
do sonho de quem busca
e ousa e quer
do sonho que é mais sonho
na Mulher
é de sonho a vida
que procuro!
É de silêncio a força
com que te amo
esta força trovão
à flor da pele
esta força que cresce
e que me impele
e é de silêncio o nome
que te chamo!...


Maria Mamede

quarta-feira, agosto 08, 2007

INFINITO

do infinito vem e dele é feito
este infinito Amor, enquanto dura
é infinito bem ou mal sem cura
todo prazer e dor, tão a meu jeito...

do infinito nasce; em paz virá
do infinito chega e é paz em mim
assombrosa flor que em meu jardim
tem o doce olor da Rosa-Chá...

e infinito o quero e o desamo
grilheta de luz, escravo e amo
na força do sentir, o mais bonito

ó infinito Amor, serenidade
qu'importa quanto dure esta verdade
se no tempo que fores és infinito?!...


Maria Mamede

sexta-feira, agosto 03, 2007

RIOS

Rio de paixão que cavas fundo
os sulcos da vida que abracei
não sei se ganho ou perco o mundo
se o tenho, se o perdi, também não sei...

rio de amor que manso chegas
e os passos imprimes no caminho
que alegrias me dás, que dores me negas
como preenches as faltas de carinho?!

Rio da paz intemporal, discreta
trazendo mágoa e solidão d'asceta
se vens no pôr do sol antes do fim

que procuras na minh'alma inquieta?
foi curvo meu caminho, agora em recta
que rubras emoções buscas em mim?!...


Maria Mamede