segunda-feira, agosto 29, 2011

Como o povo escolhido...

Como o povo escolhido
errei
quarenta anos
no deserto
à espera da terra
prometida
e ao correr dos dias
chamei vida
nuns braços que sonhei…
ó desenganos
e perdida, tão perdida
eu acordei
sem idade, sem pátria
sem esperança
sem oásis de alma
e sem bonança
só deserto
fim de vida
onde cheguei!...

Maria Mamede


segunda-feira, agosto 22, 2011

JÁ NOS DEMOS TUDO...

Letra a letra
vão-se as tardes de amor
pelos pinhais
e o vento diz
que nunca mais
as teremos nossas
como antes...
já nos demos tudo
e foi tão pouco
tão pouco no tempo
e na poesia
sabe agora a muito
a nostalgia
das tardes de amor
já tão distantes!

Maria Mamede

segunda-feira, agosto 08, 2011

SUPLÍCIO


Tanto tempo errante
Deus do céu
sem terra de promessa!
E não há frio
que me enregele
nem sol
que me aqueça
nem luz que alumie
o sonho meu…
palmilho caminhos
passo a passo
olhar fugidio e baço
atravessando abismos
de secura
e se todo o mal
tem cura
porquê o meu
vai, manhãzinha
com a passarada
para regressar
noite calada
ao ninho
que perdeu?!...


Maria Mamede
(In "Canto Suspenso")


terça-feira, agosto 02, 2011

DENTRO DE MIM

Dentro do meu peito
um areal
praia de um dia
na viagem
que fiz cá dentro
e na coragem
que tive de mostrar
no temporal.
Dentro de mim
os versos
que tive d’escrever
‘té à tortura
e que sendo versos
de ternura
são dor, da seda
ao cotim…
e são tortura
da sandália ao salto alto
do tamanco rapelhado
à bota d’água
meus versos feitos choro
feitos mágoa
das noites de chuva
ao céu estrelado
da poeira do trilho
ao alcatrão
meus versos, todos, todos
mar de chão
meus versos paridos
como um filho
meus versos de pecado
e de perdão
e da fita de seda
ao pobre atilho;
ó versos natureza
na vertente
da água que corre
da nascente
ao mar, nesta praia
solidão
eu vos amo
como amo o sangue
que meu coração
a palpitar
faz jorrar, faz correr
faz jorrar!...


Maria Mamede