quarta-feira, abril 25, 2012

Em 2009, escrevi o poema abaixo, que infelizmente está cada vez mais actual.

NESTE MAIO

No Maio deste ano
nada peço...
cansada
no verso e no reverso
das bolorentas promessas
de melhora
é com dor
que vejo ir embora
a esperança que tive
e que professo...
mas crer, de verdade
eu já não posso;
e perdoem que vos diga
nós sempre tivemos
mais olhos que barriga
e acreditamos
porque queremos
no arranjo, por baixo do pano
e valorizamos o engano
a mentira, o dá-se um jeito;
quando se fará direito
o que entortamos?
E olhe-se bem
aquilo que logramos;
Já passaram 35 anos!
Dos cravos nem se sabe
murchos todos
nas promessas incumpridas
e nos danos
e no pão que falta em cada mesa;
que revolta me dá
e que tristeza
olhar os olhos
de quem sofre a rodos...
culpados?
Somos todos
ao cair, uma vez mais
no mesmo logro;
oxalá acordemos
num recobro
de diferentes promessas
sem perjúrio
do verbo ser igual
a conjugar
que latente em mim
há um murmúrio
de tormenta
prontinha a rebentar!...


30/04/09







terça-feira, abril 17, 2012

JE TE VEUX
(S/ tema de Erik Sadie)

Dedos no piano
correndo, correndo
depois outros dedos
no corpo e na alma
e o olhos desejo
e a boca sofrendo
e os dedos no piano
a valsa batendo…
et je te veux
simplement
comme ça, tout court !
Et doigts au piano
jusqu’á la folie
je te désir, te désir
te désir
nuit et jour, nuit et jour
nuit et jour !...


Maria Mamede

sexta-feira, abril 13, 2012

LEMBRANÇAS

Relembro as festas
Pascais
nas saudades da infância
e relembro a constância
do labor das matriarcas
que das finanças
mais parcas
por encanto, por magia
criavam tanta iguaria!
Lembro a alegria gulosa
de pequenos e crescidos
à mesa, farta de enchidos
e outras carnes
da casa
e relembro o grão
na rasa
e a farinha peneirada
pra fazer a doçaria…
relembro o pote
à lareira
sempre quente
plo borralho
e a alegria plo trabalho
acabado, ao fim do dia;
relembro flores, passarada
a cantar desenfreada
pela aurora e à tardinha
relembro a enchida
a cortinha
e o aroma a cidreira
do chá, na “chicolateira”
como dizia a avó
e aquele café em pó
no coador de flanela
de inigualável sabor…
relembro a cruz do “senhor”
trazida por muita gente
que de campainha
à frente
deixava a igreja, seu lar
e vinha-nos visitar!
Toda a gente à sua espera
ataviada a preceito
no fato de domingar
ajoelhava ao beijar
os pés da cruz
com fervor
como se fosse
o “senhor”
que estivessem a beijar;
tinham a alma no peito
tinham o céu no olhar!
E quando o dia
acabado
Nos chamava ao descanso
O sono era longo
e manso
Sem pesadelos
sem sustos
O dito sono dos justos!


Maria Mamede