terça-feira, janeiro 31, 2006

RECORDAÇÕES

Guardo em meu olhar
As sombras do ocaso
Suspiros de entardecer
Espalhados no chão da noite,
Onde a volúpia do orvalho
Deixa marcas de amor vivido,
Sorvido, saboreado...

Guardo em meus sentidos
O aroma-frescura da manhã
Que se adivinha
Nos primeiros gorgeios do rouxinol,
Que a segura, incandescente,
No seu negro bico...

De ti, de nós, em mim guardo apenas
Recordações de cetim
No rosa-lascivo do dia que desponta,
Atapetado de quimeras!...


Maria Mamede

domingo, janeiro 22, 2006

REGAÇO

Ao pó dos caminhos
Perguntei
Por teus pés andarilhos;
Às folhas caídas
Perguntei
Pela tua sombra;
Ao Nordeste
Perguntei
Pela tua voz;
E nem pó
Nem folhas
Nem vento
Me disseram de ti...
No entanto
No fundo da alma
Algo me diz
Que teus pés
Tua sombra
Tua voz
Me esperam
À esquina da tarde
Quando o sol
É uma bola de fogo
A descansar
No meu regaço!...

Maria Mamede

quinta-feira, janeiro 19, 2006

AO SOL PÔR

Em mim desaguam rios
De palavras interditas
Fontes de sonhos macios
Lagos fundos, de desditas...

Em mim desaguam mágoas
Em cachoeiras de pranto
Quando se soltam as águas
Quando se acaba o quebranto...

Em mim há praias desertas
Mares de esperas, mares de dor
Nas palavras mais incertas

Com que se escreve o amor;
Em mim choram os Poetas
Sempre que chega o sol-pôr!...

Maria Mamede

sexta-feira, janeiro 13, 2006

UMA HISTÓRIA VERDADEIRA...200 ANOS

Alguém, há muito tempo me disse a seguinte frase:-"Mesmo que eu possa viver 200 anos, meu amor por ti será igual..."

Não sei se foi, se é, sei somente que uma frase assim, faz bem ao ego, dependendo da boca que a profere e esta, foi proferida por uma, com palavras de prata!...

Por causa desse bem querer, escrevi o Soneto que se segue:


200 ANOS

"Mesmo que viva por 200 anos
meu Amor por ti será igual!..."
Não importa qual foi o final
Da nossa história, que desenganos

Sofremos; o primordial
Foi quanto nós tivemos
Os olhares e beijos que demos;
Isso é que foi o principal!...

Do resto, façamos tábua rasa;
Um golpe de vento, um bater d'asa
Riscando o azul da imensidão...

Guardemos o aroma inebriante
Do que foi nosso, breve instante
Em que apenas fomos coração!...


Maria Mamede

quinta-feira, janeiro 12, 2006

SE HOJE O AMOR....

Se hoje o amor viesse, sorrateiro
No meu peito procurar um ninho
Deixa-lo-ia entrar, devagarinho
Como se ele fosse o derradeiro...

Se hoje o amor viesse, eu sorriria
Como um dia, há muito, já o fiz
E meu coração, de tão feliz
Loucamente bateria, bateria...

Não, não seria bom, melhor não vir
A sua vinda iria permitir
Recomeçar, no fim da caminhada;

Será talvez melhor a solidão
Que outra vez o amor desilusão;
A esta, já eu estou habituada!...


Maria Mamede

segunda-feira, janeiro 09, 2006

SE ALGUÉM PERGUNTAR POR MIM...

Se alguém perguntar por mim,
Diz que morri!...
Será mais fácil de explicar
E mais verdade;
Também é morte viver nesta ansiedade
Também é agonia este esperar
Esta incerteza atroz, que vem de ti...
Se alguém te perguntar
Diz que parti
Num caixão de sol, de madrugada
De malmequeres e rosas enfeitada
E amores em ramo, presos, junto ao peito...
Se perguntarem por mim
Fiquei no vento
No dia que esmorece
No pensamento
De quem amei, por quem sofri,
Naquele jeito
De ficar partindo
Nesse jeito milenar
Simplicidade...
E partindo fiquei
Tão sem vontade
Tão amante dos verdes e caminhos
Que meus sentidos
Seguiram sozinhos
E eu me quedei
Eternidade!...

Maria Mamede

domingo, janeiro 08, 2006

COMUM

Anatomicamente
Sou comum
Ser humano, da minha idade
E do meu sexo;
Pessoa que procura
Sem complexo
Viver a sua vida
O seu destino
Ao encontro da sua missão...
Na meia idade
Viver é mais que bom
Se soubermos
Enfim, tirar proveito
De tudo quanto existe
Em nosso peito
E o não deixarmos
Invadir pela solidão;
Sou Mulher
Mais de cinquenta,
Assumidos
No corpo
Na mente
Nos sentidos
No saber do que ficou
Do que esqueci;
E ser Mulher traz
Ao Ser comum
A mais valia de ter
Pra cada um
Encantos diferentes dos normais;
Que a vida, ao passar
Vai dando aso
A tudo que dizemos
Ser acaso
E é somente
Predestinação...
A vida
Apenas nos fornece
Aquilo por que lutamos
Mas não esquece
Merecimentos,
Em toda a condição!
Anatomicamente
Sou comum!
Incomum
É esta frágil realidade
Cansada pela busca
Da verdade
Que acolho
Dia a dia
Ávidamente;
Incomum
É ter no peito a descoberta
Dessa porta intemporal
Entreaberta
À espera de a transpor
Eternamente!...

Maria Mamede