domingo, maio 13, 2007

TESTAMENTO

Quando eu patir, filhos meus
Que tenho pra vos deixar
A não ser o verbo amar
Em desditoso exagero
O único qu'eu 'inda quero
E sempre quis conjugar?!
Posso dizer-vos que creio
Ter nascido com o destino
Que a cada, de pequenino
Diz do bem e diz do mal
Que se terá vida fora
E afirmo, nesta hora
Sem peias e sem rodeio
Que amar, será o meio
Do Bem Supremo alcançar.

Quando eu partir, filhos meus
Não tereis terras, dinheiro
Nem matas, nem areais
Nem nada de que possais
Engrandecer-vos, bem sei;
Mas deixarei a abundância
Duma vida com fragrância
Que a Natureza me deu;
Vida com bem e com mal
Tão simples, tão natural
Tão singela como eu;
Mas com ela eu procurei
Deixar-vos tudo o que sei
Fazer-vos ir mais além
Incitar vossa vontade
A amar sempre a Verdade
E a Liberdade também!

Quando eu partir, filhos meus
Não sereis donos de nada
A não ser da consciência;
E nem tereis concorrência
Ao querer alma lavada
Pois neste Mundo, acredito
Vive-se preso no fito
Do lucro, do muito ter
Por isso, quando eu morrer
Tereis apenas em sorte
A certeza de que a morte
É uma porta, a passagem
Para a eterna viagem
Que à Vida nos conduz;
E creio poder deixar
Bem dentro do vosso peito
O Amor, o mais perfeito
Prá vossa vida adoçar!...


Maria Mamede

(in Banalidades)

sexta-feira, maio 04, 2007

TEUS BEIJOS

Teus beijos sabem a viagem
a oriente, a bruma
a ânsias de azul e sol
coisa nenhuma
do nascente ao poente
da estória;
teus beijos
sabem à memória
perdida, nos trigais do espanto
aos ondulantes cinzas do quebranto
da partida, a barcos e a sul.
Teus beijos
são no rio a outra margem
corsários e tesouro
e a pilhagem
depois da batalha
no mar alto;
teus beijos são
de sobressalto
por vezes
de miragem
oásis no deserto
e sabem a viagem
e vontade do teu longe
no meu perto!...

Maria Mamede