quarta-feira, janeiro 31, 2007

NO TEU OLHAR...

Há nesse teu olhar liso
Que se estende pela cama
Lençóis de linho impreciso
Sempre que e gente se ama...

E o teu corpo, almofada
Veludo, renda cetim
Tem uma estrela bordada
Sempre que 'speras por mim...

Os meus olhos, no entanto
São ternura e quebranto
Quando se trocam pelos teus

E tu, nem dás pela troca
Tal loucura te provoca
A promessa que há nos meus!...


MARIA MAMEDE

sexta-feira, janeiro 26, 2007

HÁ UMA ESTAÇÃO NA MINHA CIDADE...

Há uma estação
na minha cidade
que o sol de inverno
quase não visita
feita de emoção
feita de ansiedade
que quem chega ou parte
embora com pressa
a acha bonita...
E quando o sol espreitando
seus raios projecta
por entre friestas
duma cor dourada
vem dizer da luz
vem lembrar as festas
e a juventude
sempre mui inquieta
e mesmo a velhice
fim da caminhada...
E os viajantes
essa multitude
passando apressados
dos anos pendentes
quais brincos de cor
na orelha do tempo
quedam-se encantados
do lugar ausentes
ausentes da dor
e por um momento
esquecendo cuidados...
Há uma estação
na minha cidade
feita de beleza
feita de magia
onde desce a dor
e chora a tristeza
onde entra o riso
onde há alegria.
E nessa estação
da minha cidade
que o sol de inverno
quase não visita
há sol de esperança
e bulício eterno
sonho de bonança
que afasta a desdita!...
há uma estação
na minha cidade
de que eu gosto tanto
tanto, mas tanto
e essa estação
da minha cidade
é uma estação
com nome de Santo!...


Maria Mamede

sexta-feira, janeiro 19, 2007

ODE À CIDADE

Dissolvo-me na cidade e mansamente
Tendo a neblina como manto
Sou granito, sou muralha Fernandina...
Mas sou gaivota e pomba e a menina
A por roupa a secar e aquele canto
De fado que se ouve, mais à frente.

Faço parte das ameias que me abraçam;
Sou a calçada onde passa toda a gente
Sou o rio que desliza até à foz...
E sendo eu, sou qualquer de nós
Que deixou um rasto diferente
Nas ruas, com vida, onde se enlaçam

Os pregões brejeiros do passado...
E sou a praça, a praceta, a avenida
A viela mais escura e mais torta
E sou janela e varanda e sou a porta
Por onde sempre entra e sai a vida
No passar dos dias, lado a lado...

Levanto meu voo matinal!
E o aroma que me chega de oriente
É a Prece, pelas esquinas da cidade...
Deixo meu coração tão sem idade
Na noite que adormece e de repente
Vejo-a toda luz, Universal!...


Maria Mamede

domingo, janeiro 07, 2007

DE ONDE VIM...

Não sei onde me perco e que é de mim
Que caminhos cruzei e os que perdi
De quem me afastei, de quem fugi
Que ventos me trouxeram, de que astros vim!
Não sei onde me perco, onde me ganho
De que vagas, de que ondas, de que águas
De que choros, de que sonhos, de que mágoas
Ou que perdidas brumas me tiveram;
Sei que sou apenas maresia
Sabor a sal, espuma e penedia
Recados, de quantos não vieram!...


Maria Mamede