sábado, agosto 25, 2018



ALENTEJANDO

Cigarras cantam a canção dolente
de lendas mouras e de amores sem fim
como se chorando, ao calor mordente
a paixão que finda em ti e em mim.

O cacto aloé à beira da ‘strada
vai ficando longe, coberto de pó
tudo é caminho, ‘té de madrugada
e a vida ficando cada vez mais só!

Cai a noite morna e o passo arrasta
o cansaço quente, a tristeza fria
desperta o milhano, traz o sol em brasa
canta’ o Alentejo ao nascer do dia!


Maria Mamede


domingo, agosto 19, 2018


( de vez em quando uma prosa)




COLOQUIAIS – 2

Quando Setembro chegar vou fazer as “malas” e partir!
É bem verdade que todas as partidas me fazem chorar dilúvios, sempre o fizeram, principalmente aquelas em que sou eu quem fica; e se partir é esperança, chegar é a imensa alegria da redescoberta da casa, vazia de mim, que sorri e suspira aliviada porque voltei… e é ainda, o relembrar dos cheiros, daqueles cheiros que mesmo inconscientemente, guardamos num cantinho da nossa memória, cheiros dela, da casa e da natureza circundante, a juntar aos sons e silêncios que ela proporciona para eu ser feliz!
E mais que partir, chegar É BOM, tão bom, que creio será assim tamanha a Alegria das aves, no regresso aos ninhos antigos!

Maria Mamede


domingo, agosto 12, 2018




Qual murmúrio de oração
fumo de vela
saídos duma boca
ou dum altar
são os raios de sol
pela janela
os primeiros do dia
a entrar por ela
ou os últimos, da tarde
a terminar…
e o fumo dessa luz
bruxuleante
é na noite
bela acompanhante
de quem murmurando
se despede
até outra manhã
ou outra vida
e é no novo dia a despontar
prenuncio
de nova luz em novo altar
eterno ressurgir e despedida!

Maria Mamede


quinta-feira, agosto 09, 2018





Ah como são belos os rios!

Gostava de ser

Pelo menos um ribeirito...

Poderia, espreguiçar-me entre fragas

Deslizar no macio dos musgos

Sentir o aroma das flores

Nas margens

E enfeitar de pampilos

Os Junhos do tempo.

E mesmo que não chegasses nunca

Não teria vida solitária

Com tanto a meu lado...

Apenas uma coisa me preocupa

Tenho medo da água!...



Maria Mamede

(do livro "NO CAIS DO TEMPO")

quarta-feira, agosto 01, 2018





Nas tardes de oiro
do meu sonho
há rendilhadas colunas
de alabastro
pintadas
com poeira de astro
perdido
no encanto das marés…
astro
em poeira transformado
que um dia caiu
do céu estrelado
pra ser areia
a beijar meus pés!



Maria Mamede


(do livro "A INCOERÊNCIA DO SONHO")