quinta-feira, abril 30, 2009

NESTE MAIO...

No Maio deste ano
nada peço...
cansada
do verso e do reverso
das bolorentas promessas
de melhora
é com dor
que vejo ir embora
a esperança que tive
e que professo
mas crer, de verdade
já não posso;
e, perdoem que vos diga
nós sempre tivemos
"mais olhos que barriga"
e acreditamos porque queremos
no arranjo "por baixo do pano"
e valorizamos o engano
a mentira, o "dá-se um jeito";
quando se fará direito
o que entortamos?
E, olhe-se bem
aquilo que logramos.
Já passaram 35 anos!
Dos cravos nem se sabe
murchos todos
pelas promessas incumpridas
pelo pão que falta
em cada mesa;
que revolta me dá
e que tristeza
olhar os olhos de quem sofre
a rodos!
Culpados?
Somos todos
ao cair, uma vez mais no mesmo logro;
oxalá acordemos num recobro
de diferentes promessas
sem perjúrio
do verbo "ser igual"
a conjugar
que latente em mim
há um murmúrio
de tormenta
prontinha a REBENTAR!...

Maria Mamede

segunda-feira, abril 27, 2009

PRECE

Depois de curto interregno, volto aos poemas da minha fase "Medieva" ; por isso aqui vos deixo mais uma Cantiga de Amigo.


PRECE

Meu Senhor de toda a graça
que vejo em mia capela
quando vou ao povoado
me estou em muito cuidado
meu Senhor, pelo cavaleiro
que roubou meu coração...
Vós que sabeis meu segredo
meu Senhor da compaixão
valei-me que bem podeis
na mia grande aflição...
é que não sei novas dele
meu Senhor, donde será?!
Quem sabe se me amará!
Meu Senhor da Benta Mão
deitai mão ao meu amado
que me morro de cuidado!...


Maria Mamede

domingo, abril 19, 2009

ABRIL...

Queridos Amigos e Amigas,

há alguns anos atrás, escrevi um sonetilho que aqui vos deixo.
Infelizmente desde essa altura que se mantém actual:
Contudo, continuo teimosa e esperançosamente a acreditar no Futuro
Beijos



ABRIL DAS ÁGUAS MIL


Quando foi Abril, no tempo certo
de esperanças mil, de ideais
cada um de nós foi muitos mais
e Abril se abriu, foi tempo aberto...

quando se diss' Abril ao mundo inteiro
nesse Abril d'águas choveu flores
e arderam paixões, fogo de cores
nesse Abril, pra muitos o primeiro...

e choveu águas mil nos corações
águas de paz sem dor silente
águas dum futuro conquistado...

mas depois, só choveu desilusões
E o Abril, de novo mais descrente
é outra vez às águas condenado!...


Maria Mamede

domingo, abril 12, 2009

ADÁGIO MEU...

Adágio meu, nos olhos e na alma
do coração nem falo, que a ternura
está pintada nesta tarde calma
que morre, como expira a criatura

neste leito de água que apodrece...

Adágio meu, o oboé que chora
por cima das águas da lagoa
é rouxinol cantando e leva embora
um adágio de amor que me atordoa

e é corda do meu ser, que estremece...

Adágio meu, tão meu e tão perfeito
escrito para mim que o amo tanto
por isso me pertence por direito
e ao escutá-lo, me desfaço em pranto;

Veneza é o Amor que se não esquece!...


Maria Mamede

domingo, abril 05, 2009

TEMPESTADES

Quando no peito a noite é mais profunda
que a noite que desce na cidade
quando na verdade que me inunda
o tempo é só inverno na idade...

quando no olhar há só talvez
ou até sempre, ou até nunca mais
e em mim deixou de haver porquês
pela morte de tantos ideais...

quando o tempo põe a capa do invés
e troam sinfonias colossais
quando há mais mar que há marés
ecoando em crateras abissais...

e quando o mistério que há no rosto
é somente o rosto do cansaço
que faz em bagaço e em mosto
a vindimada vinha do espaço

feche-se a porta, cumpra-se o destino
que a terra, só exige o que lhe cabe;
voltemos à chegada, ao ser menino
é hora de regresso à eternidade!...

Maria Mamede