AVÔ EVARISTO
Teus olhos azuis-cinza
e teu cabelo loiro
e ondulado
reminiscências avoengas
de franceses e ingleses
eram chamariz
prás moças da aldeia
tão tisnadas, tão morenas…
cantavas ao desafio
em festas de família
ou encontros de amigos
e sabias de cada meco- divisória
perdido no meio
dos campos
e dos dias da água
de regar
dos consortes
da presa da Lavandeira.
Tinhas de teu
uma junta de
bois
e algumas vacas
que no inverno pariam
e davam leite, tanto
que com ele a Avó
todas as manhãs fazia
manteiga
enchendo o nosso “frigorífico”
(a fonte da cozinha)
com malgas de faiança
cobertas com panos de linho…
descendente de ricos
foste sempre pobre
e toda a gente, filhos e filhas
criados da casa
e de jorna
e visitas
gente rica ou gente pobre
se sentava à mesma mesa
de bancos corridos
porque tinhas o coração aberto
a todos
e a porta no trinque
pra quem vinha de longe
precisado de uma tigela de caldo
um copo de
vinho
e uma noite dormida
no barracão grande
em meio à palha…
nas romarias
gostavas de ouvir as bandas
principalmente
quando tocavam Verdi
e choravas com facilidade…
apesar de Avô
sempre te chamei Pai
e foste-o, de verdade;
e foi na tua casa que nasci!
Maria Mamede
(do livro "ALBUM DE FAMÍLIA")