domingo, março 29, 2020


AO SEMEADOR DE ESTRELAS…

Sei que continuas a semear estrelas
e sonhos
e é por isso que cada vez mais
és necessário…
não importa a lonjura de mim
nessa a praça de Kaunas, ao pé do muro
onde te colocaram
importa é que meus olhos
te seguiram
e cá e lá, em viagem constante
te olham, noite e dia
só para verem as estelas que semeias…
neste tempo de noite sem luzes
é cada vez mais importante
a tua existência
porque é cada vez mais preciso
que semeies estrelas
 no muro das praças
de todo o mundo
porque as do firmamento
 já não chegam para acender
os nossos sonhos
nem para dar luz à nossa existência!..

Maria Mamede

(…Kaunas/Lituânia)

quinta-feira, março 26, 2020


Há sombras por estes dias
meu Amor
que fazem tremer o sol;
e há ventos por estes dias
meu Amor
a dizer à chuva que venha
que caia abundantemente
porque é preciso (dar de beber
a quem tem sede)
e faça transbordar os rios da Paz
para que possamos semear
flores e trigo
porque é urgente
alimentar a vida, todas as vidas...
há sombras por estes dias
meu Amor
e o sol, cansado de se esconder
resolveu abrir algumas friestas
na abóbada celeste
a deixar passar uns raiozitos
do seu calor
para que a Primavera chegue a tempo
de curar o sofrimento
das árvores, dos frutos
e dos bichos.
Para nós, meu Amor
eu peço somente
o indispensável à vida
enquanto este Amor não pereça
e a Luz exista.

Maria Mamede
(22/Março/2020)






quinta-feira, março 19, 2020





CANÇÃO DE AGORA

Cresce em mim
uma canção de aconchego
que embala no meu peito
o coração
que é canção de amor
de sonho e preito
canção de guerra e paz
que tem no jeito
o sonho
num mundo bem melhor.
Cresce dentro em mim
a gerar brisas
de esperança, alegre esperança
no porvir
e diz que o amanhã
é de bonança
num tempo de paz
a ressurgir;
e embora, hoje de morte
haja quem fale
a sustar o bater do coração
a primavera anda aí
pra quem inale
aromas de futuro
e nunca cale
a força que tem
esta canção!

Maria Mamede
19/Março/2020



segunda-feira, março 09, 2020

CHORO

ÀS Mulheres - Mães, filhas, esposas e irmãs dos mortos nas guerras de todos os tempos


Ai o cinza chumbo dos tempos de guerra
as vidas perdidas, os corpos vazios
o troar medonho que ecoa na terra
as mulheres sozinhas a chorarem rios...

Ai dias de Março em busca da Paz
onde as vossas vidas, onde os vossos filhos?
Às mulheres de negro, já tanto lhes faz
se seguem a estrada ou perdem os trilhos...

Ai mulheres de negro, como andorinhas
vogando à toa de olhos vazios
sinto suas dores como fossem minhas
ó mulheres sozinhas a chorarem rios!...

Maria Mamede

(no livro "Pelas Letras do Alfabeto")       

segunda-feira, março 02, 2020


ESPELHO

Que rosto é este, que vejo no espelho?
A quem pertence esta figura
a sorrir, num sorrir tristura
quase esgar de dor, quase partida?
Olho mais atentamente agora
e o rosto que se evidencia
é o meu, rosto de agonia
pelo amor que parte ou principia
pelo tempo que se vai embora
com a vida, eterna caminhada…
é afinal o meu, o rosto do espelho
que viveu e foi ficando velho;
beleza? Juventude? Pó, mais nada!...

Maria Mamede