segunda-feira, fevereiro 27, 2006

FLORES DO CAMPO

(A Rosalia de Castro) - num aniversário de sua morte-24/Fev. -


Ai flores do campo, brincos e aneis
Enfeites meus em tantas idades
Ai flores do campo, Marias, Maneis
No cio da terra, ao som das trindades.

Ai flores do campo, ó quantas saudades
Quantos os desejos de vos ir colher
Ai flores do campo, foi-se a mocidade
E eu nunca mais vos tornei a ver.

Ai trevo bravo, dum roxo escuro
A cor mais triste da Semana Santa
Como é fria a terra, como o chão é duro
Como custa a morte se a saudade é tanta.

Ó flores do campo, minhas flores chorai
Que foi dura a vida, um penar constante
Vosso choro ao meu, minhas flores juntai;
Quem me lembrará pelo futuro adiante?!...

Maria Mamede

quarta-feira, fevereiro 22, 2006

DEIXA-ME ADORMECER NO FUNDO DOS TEUS OLHOS...

Meu amor que não tenho
Deixa-me adormecer no fundo dos teus olhos!
Nessa imensa floresta
Onde cantam rouxinóis
A brisa é mansa
E fala de pinheirais e mar
Que atravesso
Nas asas das aves migratórias...
E os rios
Vales de lágrimas de todos os passados
Onde se quedaram sulcos meus
Podem ser fontes
Onde o amor
Venha beber...
Meu amor que não tenho
Nascente de amanhãs
No ocaso dos dias
Nos outonos da vida
Nos recomeços que não espero
Deixa-me descansar
Fronte pousada no teu peito
Onde tudo palpita e acontece;
É imenso o cansaço do tempo
Nos futuros de onde venho...
Meu amor de sempre
Tu, que nunca tive
Deixa-me adormecer no fundo dos teus olhos!...

Maria Mamede

quinta-feira, fevereiro 09, 2006

PAIXÃO TARDIA

Andam no ar tantas trovas
Tantas canções por cantar
Que a todas eu acho novas
Pelo prazer de te encontrar.

Andam no ar tantos versos
Tantas modas por ouvir
Que unem sonhos dispersos
Na tua boca a sorrir.

Anda no ar a magia
Duma noite enluarada
Em que nós dois, sendo um

Nos damos; paixão tardia
Tão antiga e desejada
Tão diferente e tão comum


Maria Mamede

sexta-feira, fevereiro 03, 2006

NAS ASAS DO MISTÉRIO

Nas asas do mistério
E nos harpejos
De liras divinais
Eu procuro beijos
Aos teus
Iguais...

Na fímbria do manto
Da quimera
Na orla da dor
Eu deposito a espera
E o pranto
Do amor...

E na certeza da vida
Que vier
Enquanto a hora
Não chegar
Eu vou por aí fora
Viver
Eu vou vida fora
Amar!...


Maria Mamede