quarta-feira, janeiro 26, 2011

HÁ MUITO...

Há muito
que os meus outonos
eram ribeiritos magros
a deslizar sem força
pelas encostas da vida…
há muito
que as noites de luar
eram apenas o sol do invés
a pratear a noite
e os bancos do jardim…
há muito, muito tempo
que as folhas caducas
atapetavam o chão
de cores ocres
no tempo solidão
à porta dos Invernos…
um dia porém
ao despontar Abril
e num florir de rosas
espalhou-se em mim
um perfume de chegada.

Maria Mamede (in "Em Corpo e Alma")

segunda-feira, janeiro 17, 2011

DESTINO

(s/poema de Orlando Figueiredo)

minha mão no teu peito
sente o bater do teu coração
e o veludo da tua pele
onde se escrevem cartas
com luas e nuvens;
tão triste o inverno…
entanto, é destino
a berma da estrada
à chuva
à neve
e a espera
essa eterna espera
solidão
na dor de te não ter!...


Maria Mamede

DESTINO

sábado, janeiro 08, 2011

OS REIS MAGOS

Não se sabe bem de onde
em pachorrenta montada
três Homens, Reis da Magia
conhecendo a Profecia
tinham-se feito à estrada.
E desde o primeiro instante
que uma estrela brilhante
seguia, piscando à frente
dos Magos do Oriente…
vinham da Arábia, da Pérsia,
desse Oriente distante
onde passavam a vida
estudando os Astros, as Sortes
os nascimentos, as mortes
de seres humanos e estrelas
e sabiam, só em vê-las
se mantinham posições
ou se tinham transformado
em outras constelações.
Por causa dos poderes seus
consultavam, noite e dia
as Cartas d'Astrologia;
estava profetizado
que nasceria uma Estrela
anunciando a chegada
dum novo Rei dos Judeus;
e, eis que surge pendurada
no firmamento celeste
a estrela anunciada!
Fazem-se então à estrada
pra ver O vindo dos céus!…
Nesse momento, porém,
a nova estrela brilhante
tornou-se menos distante
e guiou-os a Belém!…
Depois de longa jornada
já às portas de Judá
são parados pela espada
dos soldados de Herodes
(o tal das tranças, má rez)
que ficou muito inquieto
pela visita dos três;
relembrando a profecia
que tinha ouvido, outrora,
Herodes sentia agora
medo do Rei que nascia
e quem sabe poderia
um dia, tirar-lhe o trono…
e sorrindo, disse aos Magos
fingindo delicadeza
que lhes dava a certeza
do seu interesse crescente
pelo nascimento em questão...
fossem em Paz, pois então
e ficassem no País
o tempo que precisassem;
só lhes fazia um pedido:
depois de visto o Menino
de regresso por lá voltassem
pra que assim o informassem
de todo o acontecido!
Voltam de novo à estrada
a estrela à sua frente
dizia: -"Vamos lá gente
estamos quase a chegar!"
Afastando-os da cidade
levou-os a um descampado
onde havia uma cabana
(abrigo de animais)
e sobre ela foi pousar;
quando abriram os portais
que quadro mais singular
o Pai e a Mãe, com desvelo
olhavam embevecidos
seu filho, pequenininho
que lhes sorria, nuzinho
deitado na manjedoura.
Ladeavam-no também
além do Pai e da Mãe
uma vaca e um burrinho
com seu bafo a aquecê-Lo!
Prostram-se de joelhos
para Lhe darem as prendas
trazidas de seus Países:
- ao Homem, mirra oferecem
para o Rei, trazem o ouro
(que tantos Reis apetecem)
e incenso para o Deus,
ouve-se vozes dos céus
e Anjos, mil, aparecem!
Melchior, Gaspar e Baltazar
decidem então voltar
às suas terras distantes
e regressam radiantes
porque vão cheios de Luz
que o pequenino Jesus
derramou do Seu sorriso
e adivinham que é preciso
regressar por outro lado.
Quanto a Herodes, má rês
diz-se que esperou sentado
pelas notícias dos três!…

Maria Mamede (In "Coisas para os meus Netos")