terça-feira, outubro 11, 2005

FOLHAS OUTONAIS

Troco meus sonhos, lindos, por quimeras
minhas angústias devolvo-as ao vento
que mas trouxe d'antes, doutras eras
onde já fui soluço e sofrimento...

Não quero mais saber se as mereço
se devo ou não gaudá-las, no meu peito
não quero; só quero a dor que 'squeço
para a alegria é que eu quero jeito!

Por isso, troco sonhos por folhagem
neste Outono que chega na aragem
dum sol radioso e menos quente

Só as quimeras cabem na gaveta
do tempo e do amor; ou na paleta
das folhas outonais, da minha mente!...

Maria Mamede

segunda-feira, outubro 10, 2005

DAS MARÉS

Ergo os meus braços, plenos de cansaços
E ponho-os ao redor do teu pescoço
E o mundo, que nunca, nunca é nosso
Faz-se meu e teu em nossos braços...

Primeira das marés, é maré vaza;
Depois, o corpo todo se incendeia
E em nosso olhar, acende a brasa
Que faz desta maré a maré cheia...

E morro e ressuscito nos teus braços
E neles faço escada ao paraíso
Pois neles há tudo o que eu preciso

Para sonhar depois, quando te fores,
Quando vier o inverno dos amores
E o frio os fizer noutros cansaços!...


Maria Mamede

ESPERA

A acompanhante dor, a dor serena
Que bate em gelosia, no meu quarto
É doce feiticeira que me acena
Com paraísos, pra onde não parto...

E vem ao meu olhar mostrar a cena;
Promessas de sucessos retumbantes
Que minh'alma crente e tão alhena
Concegue acreditá-la, por instantes!

Porém chega, forte, a realidade
E meus olhos distiguem a verdade
Contida na ilusão que ela dá;

E ficam olhando o paraíso
Da verdade que sonho, que preciso
À espera que ele chegue, amanhã!...


Maria Mamede

domingo, outubro 09, 2005

DIZER DO AMOR

Não te amo no acto consciente
De rubros amores, paixões tardias
Amo-te naquelas sinfonias
Que irmanam corações, tão de repente...

Não te amo no acto resistente
De querer o amor, a todo o custo
Amo-te no remorso e no susto
De ser pecador e penitente...

Não te amo em actos de paixão
Antes, serena, te pego pela mão
E te levo a campos verdejantes

Onde os dois, libertos desta vida
Somos a Natureza e de seguida
Regressamos ao que fomos, antes!...


Maria Mamede

ALÉM DA MORTE

Ergo minha taça aos meus amores!
E brindo por quantos me disseram
que me queriam bem; por suas dores
Que pude aliviar, quando as tiveram...

Ergo minha taça transbordante
De desejos de Paz, de eterno amor
Que a vida, tal como o espumante
Perdendo a espuma, perde seu sabor...

Brindemos todos, taças levantadas
Pelas vidas, perdidas e achadas
Nas fronteiras da Luz, sem passaporte...

Brindemos! Tudo passa de repente
E amanhã, já não seremos gente
Só almas, que vão além da morte!...


Maria Mamede

AMANHÃ

Quando em mim se enrosca esta agonia
De dor lancinante e sem sossego
É a ti que me agarro e apego
Para ouvir:-"Amanhã é outro dia!..."

Quando a noite chega e é fantasia
Num sonho que não quero e que renego
Tu dizes:-"Amanhã, é outro dia!"
E a ti me agarro e apego.

Não tires a mão da minha mão
Não deixes de ser a condução
Que necessito pra seguir confiante...

Não te apartes de mim; ando sem norte
Nesta vida sê meu braço forte!
Vai negra a noite plo futuro adiante!...


Maria Mamede

VERSOS

Trago milhões de versos nas entranhas
Gerá-los e pari-los, dor suprema
Mas o amor, em celeste diadema
A coroar em mim as dores tamanhas!

Trago milhões de versos pra te dar!
São na alma, pedaços de infinito
E como a vida toda num só grito
São a causa e o efeito no amar.

De tantos que escrevi, poucos serão
Que digam da loucura, da emoção
Que fervilha em mim prós escrever

Tago-os aos milhões, aferrolhados
Em papel de sonho embrulhados
À tua espera, para tos dizer!...

Maria Mamede

O AMOR É LIBERDADE E URGÊNCIA

Que mistérios se enroscam
nas árvores da tua memória?!
Que delícias se perdem
nos musgos da tua alma?
Que mariposas brancas
andarão saltitando
de girassól em girassól
no jardim da tua existência?!
Cada vida um jardim
tantas vezes sem flores
ou um barco sem remos
ou um rio sem pontes...
e se o caudal é forte,
como atravessá-lo?
Melhor ficar olhando
e sonhando
na outra margem
e viver, imaginando
como seria esta vida,
ambos, do mesmo lado do rio...
a magia das palavras
no entanto,
transporta-nos além,
dos rios sem pontes
cujas margens se desvanecem,
como a névoa,
quando o sol acorda...
e não importa o que somos
nem como somos,
o que amamos ou desejamos
porque só o amor importa:
o amor e nada mais!
E o AMOR, com maiúsculas
não precisa de pontes,
porque dentro dele
tudo é existência e olvido
tudo é ser e não ser;
o AMOR, precisa somente
do seu jardim interior
dos seus girassóis de segredos,
das suas mariposas brancas de esperanças,
dos seus musgos de recordações,
para existir e nos fazer felizes!
Abençoado AMOR
prenhe de vivências,
que nos faz amar serenamente
"amar, só por amar, como diria Florbela"
a um, a outro, a muitos, esta, outra
e muitas outras vezes,
de modo igual e a cada um diferenciadamente
mas com a mesma intensidade.
Por isso é urgente a Liberdade
como o AMOR é urgente!...


Maria Mamede

CHORINHO

Ó minha flor dos cansaços
No cansaço das esquinas
Do coração em ruínas
Nos mistérios de viver,
Ó minha lua de prata
Da prata-dor da tristura
Da prata-dor de morrer
Quem disse que é verdade
O amor sem a saudade
De o viver em liberdade
Na verdade de o não ter?!...


Maria Mamede

SE EU PUDESSE...

Se eu pudesse ser uma andorinha
Que vem e vai nas estações previstas
Em busca de calor
Atravessando mares!
Pudesse eu ser uma andorinha!...
Pudesse eu ser uma gota de chuva
Que a seca, às vezes permite
À boca ressequida das orquídeas;
Pudesse eu ser uma gota de chuva!...
Pudesse eu ser o fluxo das marés
As fases da lua
A direcção dos ventos
O cintilar das estrelas
Ah! Pudesse eu ser!
E seria eternamente presente
Na tua vida!...


Maria Mamede

ESCREVO? LOGO RESPIRO!

Escrevo? Logo respiro
Que a vida só é verdade
Nos grandes actos de amor
E escrevendo, expondo a alma
Passa a raiva, chega a calma
E até o sono é melhor...
Escrevo e fico feliz
Por tudo o que aparece
Neste branco onde o matiz
Fala da vida, da dor
Das vielas do amor
Das veias da dor serena;
Escrevo e tudo me esquece
Tudo mais é acessório
Que o mundo só acontece
Nesse momento ilusório
Em que nasce O Poema!
O resto, pode ser lume
Pode ser água salgada
Pode até ser ribeirinho
A fazer o seu caminho
No tempo da enxurrada,
Mas não será mais que isso...
Acessório e mais nada;
Porque só o Poema importa
Só ele me abre a porta
À plena felicidade
Só ele tem o condão
De me levantar do chão
E de me dar liberdade!
Só ele traz a fragrância
que vive em mim e é distância
No mundo largo da vida
Só ele é paz e é calma
Doce bálsamo da alma
(pássaro de asa ferida).
E o Poema chegado
Não há tempo, nem pecado
Que não tenha remissão
Pode mesmo ser algema
Pode até ser escravidão
Mas é uma janela aberta
Na mente, sempre desperta
Porque é libertação;
Escrevo, logo respiro!
Escrever e respirar
São o mesmo para mim;
Não importa qual o tema
Respirar está no Poema
Como o Poema em mim!...

Maria Mamede

QUE VONTADE DE TI!

Que vontade de ti!
Que quiméricas ilusões
Se partem, como taças de luz..
Que alegrias se estilhaçam
Nas vidraças da dor...
Que aromas de delírio
Se evolam nas asas das gaivotas.
Que saudade de ti!
Quisera escrever nos muros
A giz de esperança
Que a vida pode ser,
Que o amor pode ser,
Que o beijo pode ser,
Só porque o desejo existe
Porque a vida finda
Porque a morte chega...
Quisera colher para ti
Um braçado de girassóis
Do amor crescente
E uma rosa branca
De despedida
Só porque o relógio do tempo
Não pára nunca!...

Maria Mamede

ÍNTIMA COLHEITA

Colho em mim as flores
Que teu jardim me nega!
Rego em mim as azaleas
Que adivinho florescendo
Nos canteiros de ti!
Desfolho as minhas rosas-chá
Que imagino desabrochando
Ao pé de ti, meu poente,
Onde o sol chega mais tarde!
E toda eu floresço
Com elas
E como elas me desfolho,
Pétala a pétala!...

Maria Mamede

AMO-TE

Amo-te
na quietude mansa
duma tarde de outono
no meu País!
Amo-te
No aroma das rosas de toucar
nos muros
do meu País!
Amo-te
no amarelo dos pampilos
salpicando o verde
dos prados
do meu País!
Amo-te
no dealbar de cada dia
durante as quatro estações
do ano
no meu País!
Amo-te
raivosamente
nas fúrias incontidas
das tempestades
do meu País!
Amo-te
serenamente
nas tardes languescentes
nas margens dos rios
do meu País!
Amo-te
docemente
no entardecer da minha vida
nos ocasos róseos e dourados
do meu País!
E amar-te-ei sempre
a cada aurora, em cada ocaso
faça frio ou calor
até ao meu derradeiro alento
com a força indomável
das trovoadas de Maio
do meu País!...

Maria Mamede

sábado, outubro 08, 2005

O LEGADO DAS PALAVRAS

Nas minhas veias, não corre somente sangue Português, (o que quer dizer Celtibero, Lusitano, Grego, Romano, Vicking) mas por inconsciente opção genética avoenga, também Galaico Duriense, Basco, Catalão, Britânico e Francês(Parisiense), o que faz de mim esta amostra híbrida de gente do mundo.

De todos eles, sinto algum defeito e alguma qualidade; em todos eles encontro algo com que me identifico; em todos eles me debruço, olhando-os apenas de uma vida, esta que estou vivendo desta vez!

A todos eles admiro e por todos entristeço; de todos eles vejo marcas, nos achados arqueológicos que me espantam e me dão a vontade da procura, nos traços fisionómicos da minha gente (tão iguais e tão diversos) e muito especialmente nas palavras, (topónimos, vocábulos) porque as palavras são o que mais me encanta e o que mais amo.

Através delas, comunico melhor os meus sentimentos, todos os sentimentos; através delas consigo compreender melhor, o que fui, o que sou, os meus legados genético-sociais e idealistas que aos meus vindouros entrego, com todo o amor e humildade de que sou capaz.

As palavras sempre tiveram lugar cimeiro na minha vida, a par dos pensamentos.

Elas me têm ajudado a sobreviver a "naufrágios", "incêndios" e todo o tipo de "catástrofes" de alma, de coração e de mente e em alturas de crise, têm sido elas o farol maior na minha vida.

Foi com elas que aprendi a dizer "Mãe"!
São elas que me dizem da Fé, da Esperança e do Amor.
E são elas que me lembram:
- que se há Tempestade, há Bonança
que se há Treva, há Luz
que se há Guerra, há Paz
e que sempre, sempre, pode haver AMANHÃ!...


Maria Mamede

De Amor e de Terra

DE AMOR E DE TERRA


De que raças sou, fui e serei?
De que cores e credos, de que sortes?
Quantas vidas vivi e viverei?
Morri e morrerei de quantas mortes?

Quantos amores e sonhos e 'speranças
Quantos desesperos, quantas dores
Fui Mãe ou Pai, de que crianças?
E quantos os tormentos, os horrores?

Quantos filhos chorei, em tantas guerras?
Quantos filhos criei e fui feliz?
Quantos corpos, quantas águas, quantas terras
Toquei, beijei, amei e fui raíz?

E quantas vezes ainda, pra me dar?
Quantas vidas ainda a renascer?
Quantas bocas, ainda, pra beijar?
Quantas mortes, ainda, pra morrer?

Entanto, conformada, canto o fado
A sina, a missão, a dor que berra
E tenho mariposas a meu lado
Feitas, como eu, de Amor e Terra!...


Maria Mamede

De Amor e de Terra

Meus Amigos(as)
passados(as), presentes e futuros(as)

A minha subita decisão de criar um blog tem muito de especial.
Há tempos, ofereceram-me uma "Mariposa Branca" em forma de Poesia que me fez escrever, escrever, escrever e pensar que ela, a Mariposa, tal como os seres viventes animais e vegetais, todos são
(somos) feitos de Amor e de Terra.

Daí o nome do Blog.
Por isso este Blog é também obra desse bem querer longínquo, que me deu o "Mote".

Deixarei aqui os meus Poemas, principalmente, que dirão das minhas
disposições momentâneas; alguns dos Poemas serão exclusivos, outros em primeira mão...
o resto, o resto se verá, pois será construido ao ritmo das "Estações"...

Tenho que agradecer a alguns amigos cuja ajuda tem sido preciosa, para eu chegar até aqui:

Ao Zé Gomes, meu amigo de sempre, mais que irmão
À Milu Gomes, sua mulher, irmã guerreira Timorense
À Sónia, filha dos dois, flor que desponta no meu jardim de amizades perenes
À Rosa Teixeira Bastos, amiga recente mas já "Velha Amiga"
e ainda
Ao Virgílio Oliveira, um dos "maiores culpados" de eu estar na Net
e portanto ter chegad ao interminável mundo dos Blogs.

Finalmente, a todos(as) quantos(as), a partir de agora, ,decidirem
"acampar" por cá, de vez em quando e ao partir queiram deixar a flor dum comentário,

Um abraço de Amor e de Terra
da Maria Mamede