sábado, novembro 24, 2018





Não sei se algum dia
sentiste por mim um amor
igual ao meu;
sei apenas
que quando os pássaros
invadiram a casa
foi como se todos
os teus beijos
invadissem a minha boca
e o teu olhar
fosse abraço clandestino
na noite sem lua.
Ah meu Amor e o abraço
o teu abraço
era precioso contrabando
galgando fronteiras!

Maria Mamede

( "Tantos Livros por Escrever...")

domingo, novembro 18, 2018






Abre essas “ janelas”
luminosas!
Por causa delas
o sol morre d’ inveja;
e olha à tua volta
nem que seja
porque as “meninas”
nasceram curiosas…
abre essas “portadas”
par em par
porque o azul
nelas a brilhar
faz inveja ao céu
quem o diria;
abre-as
que são tão formosas
como no roseiral
as frescas rosas
cada manhã
ao despontar do dia.

Maria Mamede

(do livro "Canções do Mar")





sábado, novembro 10, 2018



CANÇÃO DO PÃO


Vede o Pão!
não somente o nosso 
de cada dia
de que se fala
comummente
mas o outro
aquele
de que ninguém 
quer falar
por saber a fel.
Aquele outro
que ninguém diz
o que paga ao usurário
o que come o mau juiz
o do misérrimo salário
o de quem morre de fome
que quase toda a gente
diz que desconhece
porque não interessa
nem apetece
aos senhores do mundo...
olhai o pão
do desamor profundo
aquele pão
que tortura e envilece
e não alimenta
mas fornece
dinheiro, a rodos
olhai ainda
o pão
que nos é roubado
e que deveria ser
de todos...
depois
vede o pão
de toda a gente
e ficarei contente
se vos saciar
nem precisamos
que seja
de alva farinha
qualquer espiga
escura e minguada
vos dará a festa
quando a hora do banquete
soar!...

Maria Mamede



quarta-feira, novembro 07, 2018





 MÃE

Antes Mãe
muito antes do desabrochar da semente
todos os dias eram nossos
e ninguém nos podia separar…
depois, o tempo correu
e os dias passaram a ser
só teus e só meus, assim, separadamente
porque a vida ia fugindo
e abrindo outras veredas.
Mais tarde, o fruto dando outros frutos
abriu mais caminhos e mais veredas
que de vez em quando iam dar
à casinha pequena que tinha sido só nossa.
A certa altura, sem explicações
os dias voltaram a ser nossos
só nossos, como no começo;
hoje, são somente os meus dias
na solidão acompanhada por um Anjo
que és tu
e que se divide entre mim
e todos os outros
 que continuas a amar e a proteger…
mas sabes Mãe, à noite, continuo a deixar a luz acesa
à espera que venhas
prá viagem derradeira.

Maria Mamede