sábado, abril 15, 2006

COMEMORAÇÃO...

Estamos quase a chegar a uma data "marco", passado recente da História do nosso País...
Por tal motivo, deixo-vos aqui uma Carta; alguns já a conhecem, pois já me ouviram dizê-la em Noites de Poesia; outros já a possuem, ofereci-a a várias pessoas, a quem ela agradou e ma solicitaram; hoje, quero partilhá-la com todos(as) quantos(as) sentem como eu senti quando a escrevi há 10 anos atrás e continuo a sentir (infelizmente) volvido todo este tempo...

Salve-se a Esperança!




1ª.CARTA A ZECA AFONSO

QUEIXAS


Zeca,
Que tristeza pensar que foi loucura
Lutar tanto tempo, se afinal
O esquecimento desfez toda a amargura
Todo o sofrimento e todo o mal!
E sofreste tu, por teres cantado
As lutas que devíamos lembrar
E por teres rido e por teres chorado
Por quem tinha medo de falar...
Ó como dói ver que nas campinas
Vergadas por jugos diferentes
Continuam ceifando as Catarinas
Mas mais conformadas, mais descrentes...

E o choro contido nas palavras
Histórias que trazemos, já contadas
Memórias que não dão riso, mas pena...
Ai a dor de serem de novo escravas
As gargantas já antes libertadas
Quando cantaram a "Grândola Morena"!

E esta imensa dor de ver traídos
Os ideais de Abril, renovação
Desse Mês-País, que fez história!
São agora angústia e são gemidos
Os cravos vermelhos da Revolução;
Mais um Alcácer de Bruma na memória!...

Zeca,
Toma os meus olhos, são fontes sem água
Donde brotaram jorros de alegria
Na liberdade das paixões a arder;
Ai meu Amigo, esta imensa mágoa!
Nosso País mais uma vez se adia,
Toma os meus olhos, que eu não quero ver!...


Maria Mamede

domingo, abril 09, 2006

ABRIL DAS ÁGUAS MIL

Quando foi Abril, no tempo certo
De esperanças mil, de ideais
Cada um de nós foi muitos mais
E Abril se abriu; foi tempo aberto...

Quando se diss'Abril ao mundo inteiro
Nesse Abril, d'águas choveu flores
E arderam paixões, fogo de cores
Nesse Abril, pra muitos o primeiro...

E choveu águas mil, nos corações
Águas de paz, sem dor silente
Águas dum futuro conquistado...

Mas depois, só choveu desilusões!
E o Abril, de novo mais descrente
É outra vez às águas condenado!...


Maria Mamede

quinta-feira, abril 06, 2006

CAMINHOS

Hoje eu vou cantar os caminhos velhos
De passos antigos
Doutros tempos
Caminhos
Entre muros pardacentos
Com passos perdidos na memória
Caminhos
Com e sem história
Nos vales, nas montanhas, nas ravinas
Caminhos
Feitos caminhando
Por gente
Que partindo ou chegando
Os forma, os transforma
Os ostracisa
Caminhos
De que a gente precisa
Ou esquece
Na maior simplicidade;
Caminhos
Vielas na cidade
De medo, de fado, de ganância
Esconsos caminhos
De abundância
Nas avenidas da iniquidade...
Vielas
Ruas paralelas
Às praças do poder e do dinheiro;
Caminhos
Do ócio sorrateiro
Tortuosos, deprimentes
Das palavras ditas por entre dentes
De navalhas sibilinas
Do pó da perdição
Adulto calvário de meninos e meninas
Caminhos
Da destruição...
Hoje canto ainda
Os caminhos
Dum novo Apocalipse
De tempestades de trovões
Espadas de fogo
De mágoa
Do início e fim de gerações;
Águas invadindo o caminho estreito
Mares de água
No Rio que transborda do seu leito...
Caminhos de purga
O Calvário
Com quedas, Cireneu, Cruz e Sudário
Lanças, torturas e esponjas de fel;
Hoje
Só caminhos vou cantar
Peregrinos caminhos
Na procura da Paz
O Graal dos Sábios
Caminhos
De nome derradeiro
Nos meus lábios
No tempo de partir
Para chegar!...

Maria Mamede

domingo, abril 02, 2006

ABRIL

Dei-te meu corpo de lua
E desejos de viagem
Fiz a noite sempre tua
Dei-te meu corpo de lua
Dei-te o barco e a coragem...

Dei-te o mar da existência
E uma vida de aventura
Do sol a incandescência
E a mim, presente-ausência
Da saudade que tortura...

Dei-te meu corpo de bruma
Nos brocados do anil
Aragem, coisa nenhuma
Dei-te meu corpo de bruma
Nas alvoradas de Abril!...


Maria Mamede