sábado, julho 21, 2018





A mansidão das rolas
pela manhã
invade esta casa
que é meu peito
ond’ este corpo meu
outrora leito
inda vive, inda arde
de paixão…
e as aves todas
sabendo da tristura
de ser esta ave
aprisionada
chegam até mim
pela madrugada
e bebem em meus olhos
a amargura!

Maria Mamede



(do Livro  "A Invasão dos Pássaros")

domingo, julho 15, 2018




SOLILÓQUIO

                    (do livro "ALBUM DE FAMÍLIA"

Perfumei-me de alfazema
para te esperar
e não chegaste!
E começa a estar frio demais
para este vestido fino
tingido de papoilas;
sabes, já choveu bastante
embora eu não tivesse
abandonado
este banco de pedra
onde te espero
há tantas vidas!
Entanto, o tempo corre.
Desbotou-se o meu batom
de tanto beijar a ausência
e o meu coração
potro selvagem
vai agora a passo
pelos atalhos da espera!
Atormenta-me a demora...
antes, os rios
eram lágrimas
de saudade;
hoje, porém
tudo é deserto
na morte do verde.
Os sonhos, amarelo-desespero
começam a insinuar-se
no horizonte infindo
das memórias.
Rasguei minha alma
contra o casco do navio
onde viaja a esperança
e são já mortas
as horas
que deixei esquecidas
no cais do tempo...
já não sei se falo contigo
ou com aquela pêga (*)
que me olha do galho mais alto
solitária
como eu.
Ah meu amor
perfumei-me de alfazema
para te esperar
e não vieste!
E eu, aqui sozinha
há tanto tempo
creio já ter esquecido
o caminho de casa!...


Maria Mamede

(* - pássaro preto e peito branco de meio porte e grande beleza)







segunda-feira, julho 09, 2018





AO PARTIR…     (do livro Poemas Musicais)

(S/ tema “Lacrimosa” / Requiem de Mozart)

Ao partir
a vida inteira
perpassa nos meus olhos…
os cumes da esperança
os vales da tristeza
os campos do amor
e a certeza
do irrepetível seio
onde o sangue
é o sonho
o tempo
a esperança
esse seio onde
a bonança
se faz colo
em tempo de agonia
esse que me ensinou
a alegria
e a dor
desde criança…
ao partir
um requiem feliz
a cantar
ao mundo que conheço
que a vida
é um suspiro
apenas isso
dum deus que sei
mas desconheço
um deus
que penso merecer
na eterna repetição
de cada ser
e pela alma
imortal
que lhe agradeço!...

Maria Mamede





quarta-feira, julho 04, 2018




terça-feira, julho 03, 2018






Tantas as rugas do tempo
pelas encostas desta vida…
tanta coisa já vivida
e quanta mais por viver
tantos dias, tantas noites
a andar no engenho que ela
nos oferece ao nascer…
com ele vamos crescendo
nos verãos da nossa história
e dele vem a memória
das outras mais estações;
quando a vida é descendente
e devagar traz à gente
muitas cãs, muitas engelhas
e muito tempo aos serões
é que o tempo quase voa
co’a loucura do milhano
e qualquer dia é um ano
a menos no calendário…
então
pesa mais nosso fadário
o corpo prá terra inclina
e o poema da vivência
tem na vida esta cadência
das continhas dum rosário!...

 Maria Mamede

("NAS ENCOSTAS DO TEMPO"





segunda-feira, julho 02, 2018






De Alma e voz se faz canção
que vai e voa
em busca do espaço
de Alma e voz
se faz a oração
divino e terreno num abraço.
É a Alma que vibra na garganta
porque a voz de quem chora
ou de quem canta
é a mesma voz que ri e ora
é a mesma Alma em vibração
etérea chama
de amor e de perdão
da aurora do nascer
ao ocaso d’ir embora!

Maria Mamede