segunda-feira, outubro 12, 2020

 

FRAGRÃNCIAS

 

Ainda os pássaros

sempre os pássaros

e a sua arribação…

e sempre eles

porque dentro de mim

continua a existir

quase esquecido por vezes

guardado sempre

o meu Pássaro Azul

inventor de quimeras;

não importa se é Rouxinol

e vem dos campos do Bierzo

se é Melro

e vem das terras do Norte

do meu País

ou se é Estorninho

e vem fugido do calor

de Avignon

importa apenas que chega

asas doridas

pelos longos voos

e refugia-se no meu colo

a retemperar forças

e a pedir carícias.

E é por isso que no meu colo

as rosas fazem cama

e o seu olor se espalha

a perfumar o quarto!

 

Maria Mamede


("do livro -"A invasão dos Pássaros")

 

 

 

 

 

 

 

 

 

  

sexta-feira, junho 05, 2020


ANIVERSÁRIO

Pouco canto, já não danço
e não pertenço, ao que fui
quando nasci e me criei
mas ainda escrevo, ainda sonho
e ainda penso
e faltarei à verdade se disser
que não grito de raiva
por cada queda
que me prende ao chão
por cada passo
que não posso dar sem a bengala
por cada lágrima que cai
no meu regaço;
porém depois , ergo-me
e outra vez me venço
porque o Poema vida
a que pertenço
tem agora outras estrofes
 outros versos…
e nessas horas de raiva
ou de tristeza
olho ao meu redor
a Natureza
que se renova a cada
Primavera;
e outra vez me ergo
que a Poesia
fiel e eterna companhia
chega, cheia de Sonho
e de Quimera!

Maria Mamede
(4/Junho/2020)





terça-feira, maio 26, 2020




Hoje falo-te da minha terra
junto ao mar
com o verde dos campos
bordejando caminhos
apesar do asfalto
ter já invadido alguns
e inundado
as grandes estradas de ir e vir…
e como é Primavera
falo-te ainda
do regresso das andorinhas
aos beirais das casas antigas
onde as pombas
também acham poiso;
hoje a saudade
a minha saudade
enche-se de cantos e danças
dum passado Celta
que deixou no meu sangue
o sentido da honra
no peito e na palavra
e a firmeza no olhar
desafiando futuros
e descubro
que a tua terra e a minha
são duas gémeas
separadas à nascença!

Maria Mamede
(25/Maio/2020)







terça-feira, maio 05, 2020



E como hoje é dia da LÍNGUA PORTUGUESA, deixo-vos este meu Poema...




SEMPRE QUE PARTO…

Sempre que parto
eu levo na bagagem
o meu País
de poetas-marinheiros
meu País junto ao mar
um dos primeiros
a dar mundos ao Mundo
e a voltar
cheio de riquezas e de dores
cheiinho de fragrâncias
e de amores
e de mil sons diversos
que aprendeu…
meu País feito de emoção
meu País oração
de terra e água
meu País, meu País
dorida mágoa
que de tanto ir e vir
e de sofrer
de entre muitas
criou uma palavra
a quem deu o nome
de  Saudade…
palavra que só se diz
em Português
palavra que a dor
jamais esquece
porque é canção
e enternece
e é sentimento que toca
a divindade!
Sempre que parto
levo à ilharga
esta mão cheia de sonhos
de bonança
e no bornal, irreverente
essa criança
a que se dá o nome
de alegria…
e meu coração vai
cheio de esperança
e os meus olhos, de sol
e de beleza
e de alma cheia eu ergo a voz
ao meu imenso amor
a Portugal
e à nossa pátria maior
a Língua Portuguesa!

Maria Mamede


  







terça-feira, abril 28, 2020





Tua boca na minha

desenho de carne

a transformar-se

em verso

é prelúdio

de POEMA!


Maria Mamede


sábado, abril 25, 2020

AINDA O SONHO...

Um dia sonhamos
Liberdade
um dia foi
o acontecer
um dia perdemos
Liberdade
e quem no-la roubou
ganhou poder.
O Sonho continua
em nosso peito
de no futuro achar
um vero jeito
de a vermos, de novo
acontecer
um dia regressará
mas mais perfeita
forte, saudável
sem maleita
sem ganância, sem dor
sem corrupção
e nesse dia serás
ó Pátria Amada
como outrora
a mais abençoada
e cada filho teu
como um irmão!

Maria Mamede

(25/Abril/2020)


sexta-feira, abril 17, 2020



RAPTO

Rapta-me dos anjos
e leva-me nos teus braços
através dos caminhos da lua
para lá da cordilheira…
rapta-me dos deuses
e leva-me ao colo
abraçada a ti
para lá do azul;
contigo me farei pluma
e luz coada.
Voemos então, meu amor
o infinito nos espera!

Maria Mamede

(Abril/2020)


segunda-feira, abril 06, 2020



CALVÁRIO

Chegas em Vitória e entras na cidade.
Toda a gente Te saúda
empunhando folhas de palma
ou ramos, os mais diversos
e todos em grupo ou dispersos
entoam hossanas
porque Te dizem Rei…
e clamam por David
de quem És um eleito sucessor
pelo sangue e pelo valor
daquilo que pensam que farás.
Contudo, passado pouco tempo
na maior amargura do momento
todos Te abandonam, todos
mesmo aqueles que te seguiram
e Contigo comungaram refeição…
Em conclusão
tudo aconteceu como previram
antigas profecias
e foi atroz todo o tormento
que viveste
e sofreste nesses dias.
Porém, a caminhada final
o Teu  maior calvário
é hoje igual ao de Jerusalém…
e continuamos a trair-Te
descrentes, indiferentes às torturas
que Te infligiram e infligem
humanas criaturas
hoje e sempre
pelos séculos além
e porque este ser criado
para ser Humano e profundo
esqueceu que o Teu Reino
não é deste mundo!
Maria Mamede (06/Abril/2020)


sábado, abril 04, 2020





PÁSCOA

Um madeiro
um simples madeiro
e foi tortura
sofrimento e morte
para que se cumprisse
a Escritura
do Filho de Deus
nascido pra tal sorte!
E foi Rei
sem trono neste mundo
que cego, surdo e mudo
à sua Lei
ainda hoje procura
dentro e fora de si
quem lhe deu tudo…
um madeiro
um simples madeiro
Cruz erguida
que sendo tortura e morte
foi a Vida!

Maria Mamede

 (Páscoa 2019)

domingo, março 29, 2020


AO SEMEADOR DE ESTRELAS…

Sei que continuas a semear estrelas
e sonhos
e é por isso que cada vez mais
és necessário…
não importa a lonjura de mim
nessa a praça de Kaunas, ao pé do muro
onde te colocaram
importa é que meus olhos
te seguiram
e cá e lá, em viagem constante
te olham, noite e dia
só para verem as estelas que semeias…
neste tempo de noite sem luzes
é cada vez mais importante
a tua existência
porque é cada vez mais preciso
que semeies estrelas
 no muro das praças
de todo o mundo
porque as do firmamento
 já não chegam para acender
os nossos sonhos
nem para dar luz à nossa existência!..

Maria Mamede

(…Kaunas/Lituânia)

quinta-feira, março 26, 2020


Há sombras por estes dias
meu Amor
que fazem tremer o sol;
e há ventos por estes dias
meu Amor
a dizer à chuva que venha
que caia abundantemente
porque é preciso (dar de beber
a quem tem sede)
e faça transbordar os rios da Paz
para que possamos semear
flores e trigo
porque é urgente
alimentar a vida, todas as vidas...
há sombras por estes dias
meu Amor
e o sol, cansado de se esconder
resolveu abrir algumas friestas
na abóbada celeste
a deixar passar uns raiozitos
do seu calor
para que a Primavera chegue a tempo
de curar o sofrimento
das árvores, dos frutos
e dos bichos.
Para nós, meu Amor
eu peço somente
o indispensável à vida
enquanto este Amor não pereça
e a Luz exista.

Maria Mamede
(22/Março/2020)






quinta-feira, março 19, 2020





CANÇÃO DE AGORA

Cresce em mim
uma canção de aconchego
que embala no meu peito
o coração
que é canção de amor
de sonho e preito
canção de guerra e paz
que tem no jeito
o sonho
num mundo bem melhor.
Cresce dentro em mim
a gerar brisas
de esperança, alegre esperança
no porvir
e diz que o amanhã
é de bonança
num tempo de paz
a ressurgir;
e embora, hoje de morte
haja quem fale
a sustar o bater do coração
a primavera anda aí
pra quem inale
aromas de futuro
e nunca cale
a força que tem
esta canção!

Maria Mamede
19/Março/2020



segunda-feira, março 09, 2020

CHORO

ÀS Mulheres - Mães, filhas, esposas e irmãs dos mortos nas guerras de todos os tempos


Ai o cinza chumbo dos tempos de guerra
as vidas perdidas, os corpos vazios
o troar medonho que ecoa na terra
as mulheres sozinhas a chorarem rios...

Ai dias de Março em busca da Paz
onde as vossas vidas, onde os vossos filhos?
Às mulheres de negro, já tanto lhes faz
se seguem a estrada ou perdem os trilhos...

Ai mulheres de negro, como andorinhas
vogando à toa de olhos vazios
sinto suas dores como fossem minhas
ó mulheres sozinhas a chorarem rios!...

Maria Mamede

(no livro "Pelas Letras do Alfabeto")       

segunda-feira, março 02, 2020


ESPELHO

Que rosto é este, que vejo no espelho?
A quem pertence esta figura
a sorrir, num sorrir tristura
quase esgar de dor, quase partida?
Olho mais atentamente agora
e o rosto que se evidencia
é o meu, rosto de agonia
pelo amor que parte ou principia
pelo tempo que se vai embora
com a vida, eterna caminhada…
é afinal o meu, o rosto do espelho
que viveu e foi ficando velho;
beleza? Juventude? Pó, mais nada!...

Maria Mamede





segunda-feira, fevereiro 24, 2020


Um dia hei-de escrever-te um livro inteiro
no qual de conte as buscas ancestrais
que fiz para encontrar-te
convencida que ao achar-te
nao nos deixaríamos jamais...
O meu Amor, que loucura a minha!
Hoje que te achei e eºs o primeiro 
a atravessar esse portal estranho
desta fome de ti, que vem d'antanho
sou obrigada a seguir sozinha.

Maria Mamede

terça-feira, fevereiro 18, 2020



QUANDO TE CONHECI


Quando te conheci
estalaram fogos de artifício no céu do meu espanto
e meu coração abriu-se em flor
papoila vermelha
desabrochando ao quente sol de agosto
desta paixão...

E houve coros de Anjos e responsos profanos
Hosannas e Aleluias e saudações à Natureza!

Quando te conheci
reescreveu-se a beleza das cores e os pontos cardeais
renasceram as procissões
os passeios a pé, aos domingos
e as bandas a tocarem nos coretos das praças!

Quando te conheci
rebentaram os diques da tristeza
a alegria jorrou nos repuxos dos jardins
e foi a festa!

quando te conheci
reinventou-se a Felicidade!...


Maria Mamede
(do livro "LUME")


segunda-feira, fevereiro 03, 2020



ROMANCE

Qualquer árvore servia
para nos abrigar
durante o verão
nas tardes de maior calor…
os meus olhos
e os teus olhos
não precisavam das palavras
que a boca sabia
porque inventavam
um outro alfabeto
onde só cheiro e carícia
eram caracteres
indispensáveis.
E sempre que a tarde
baixava
o nosso romance seguia
o caminho do mar
até o sol se ir embora…
depois a lua aparecia
vestida de prata
e a noite, luminosa
oferecia estrelas
aos amantes!

Maria Mamede



terça-feira, janeiro 21, 2020



É TALVEZ DE MAR…

É talvez de mar
est’ asa breve
é talvez de sonho
ou branca espuma
frágil de ternura
e leve, leve
é talvez de mar
est’ asa breve
nuvem de algodão
coisa nenhuma…
é talvez de mar
ou de tristura
est’ anseio d’alma
esta ansiedade
é talvez de mar
esta amargura
no enleio do olhar
e na lonjura
da vida, que nos traz a idade…
é talvez de sol
talvez de luz
a nuvem d’algodão
que me seduz
um voo de gaivota
sobre a espuma
é talvez de mar
ou sol, ou vento
a brisa intemporal
do movimento
um frémito de amor
coisa nenhuma!

Maria Mamede
(23/Março/2014)

(Poema dito na Ordem dos Médicos – Porto e posteriormente seleccionado e musicado e cantado pelo músico Victor Blue, que faz parte de um dos seus CD’s.)





sexta-feira, dezembro 27, 2019


CAULE

Verga-me
o peso dos anos
dos desamores
das lutas perdidas...
verga-me
o silêncio
das palavras necessárias
que não houve
das carícias deixadas
dos abraços
que precisei
e não tive;
verga-me
o amor, que era urgência
e foi esquecimento
e o beijo ansiado
perdido nas esperas...
verga-me
a saudade
do que tive e é ontem
e do futuro que não terei...
tudo verga este caule que caule
que sou
na sede de mim
e de ti
enquanto a vida se esfuma!

Maria Mamede



segunda-feira, maio 13, 2019



AMO-TE

Amo-te
na quietude mansa
duma tarde de outono
no meu País!
Amo-te
No aroma das rosas de toucar
nos muros
do meu País!
Amo-te
no amarelo dos pampilos
salpicando o verde
dos prados
do meu País!
Amo-te
no dealbar de cada dia
durante as quatro estações
do ano
no meu País!
Amo-te
raivosamente
nas fúrias incontidas
das tempestades
do meu País!
Amo-te
serenamente
nas tardes languescentes
nas margens dos rios
do meu País!
Amo-te
docemente
no entardecer da minha vida
nos ocasos róseos e dourados
do meu País!
E amar-te-ei sempre
a cada aurora, em cada ocaso
faça frio ou calor
até ao meu derradeiro alento
com a força indomável
das trovoadas de Maio
do meu País!...

Maria Mamede

quinta-feira, abril 25, 2019


É PRECISO

É preciso, de novo
matar a tristeza
que num certo Abril
foi riso e não pranto
é preciso, de novo
matar com firmeza
o medo que aos poucos
cresceu e é já tanto…
é preciso, de novo
ser chama que ateia
a grande fogueira
da raiva, e se une
a outras fogueiras
de vontade cheia
que a voz da justiça
se transforme em lume…
é preciso, de novo
criar esperança
que o tempo que corre
que é negro de breu
se rasgue em caminhos
e que cada criança
possa ter futuro
num caminho seu!...

Maria Mamede






quarta-feira, abril 17, 2019



PÁSCOA
Um madeiro
um simples madeiro
e foi tortura
sofrimento e morte
para que se cumprisse
a Escritura
do Filho de Deus
nascido pra tal sorte!
E foi Rei
sem trono neste mundo
que cego, surdo e mudo
à sua Lei
ainda hoje procura
dentro e fora de si
quem lhe deu tudo…
um madeiro
um simples madeiro
Cruz erguida
que sendo tortura e morte
foi a Vida!

Maria Mamede (Páscoa 2019

sábado, abril 06, 2019


UM HINO A MACEIÓ


Azul e verde 
num mar de beleza
sem fim
e um céu d'encanto
onde o Criador
se debruça
a olhar, embevecido
a sua criação;
e Maceió acorda
sorrindo
no multicolorido
das flores
e no orquestrado canto
da passarada.
E quando o sol aparece
vem saudar a Cidade
buliçosa
que "dengosamente" passa
a caminho do mar...
e são Dele todas as cores
de pele
todos os pregões
e todos os frutos
que nas bancas 
das vendedoras
desafiam
os olhos curiosos
dos passantes!
Mas quando o dia
se despede
nos últimos raios de sol
dum estio quente
e luminoso
e a passarada voa
de regresso aos ninhos
o Bem-Te-Vi entoa o último
canto do dia
e o Beija-flor
se despede das flores que ama
é ainda o Criador
que acendendo as estrelas
sorri, maravilhado
com a sua Criação!

Maria Mamede
(22/Dezembro/2018)



terça-feira, abril 02, 2019


  

Como Alfonsina descalça
pés arrastando marés
meus pés arrasto
no tempo
num barco feito de vento
sem arrais
e sem convés…
e sou casco de navio
e sou vela principal
exposta ao calor
ao frio
e fujo à praia
e ao vazio
que no meu peito
desmaia!

Maria Mamede

(do livro "CANÇÕES DO MAR")

segunda-feira, janeiro 28, 2019




     
AVÔ EVARISTO

Teus olhos azuis-cinza
e teu cabelo loiro
e ondulado
reminiscências avoengas
de franceses e ingleses
eram chamariz
prás moças da aldeia
tão tisnadas, tão morenas…
cantavas ao desafio
em festas de família
ou encontros de amigos
e sabias de cada meco- divisória
perdido no meio
dos campos
e dos dias da água
de regar
dos consortes
da presa da Lavandeira.
Tinhas de teu
 uma junta de bois
e algumas vacas
que no inverno pariam
e davam leite, tanto
que com ele a Avó
todas as manhãs fazia
manteiga
enchendo o nosso “frigorífico”
(a fonte da cozinha)
com malgas de faiança
cobertas com panos de linho…
descendente de ricos
foste sempre pobre
e toda a gente, filhos e filhas
criados da casa  e de jorna
e visitas
gente rica ou gente pobre
se sentava à mesma mesa
de bancos corridos
porque tinhas o coração aberto
a todos
e a porta no trinque
pra quem vinha de longe
precisado de uma tigela de caldo
 um naco de broa
 um copo de vinho
e uma noite dormida
no barracão grande
em meio à palha…
nas romarias
gostavas de ouvir as bandas
principalmente
quando tocavam Verdi
e choravas com facilidade…
apesar de Avô
sempre te chamei Pai
e foste-o, de verdade;
e foi na tua casa que nasci!

Maria Mamede

(do livro "ALBUM DE FAMÍLIA")