sexta-feira, julho 28, 2006

MEU CORAÇÃO

Meu coração, resto de incêncios
não obedece a compêndios
e apesar de tudo o que viveu
não usa anel
de bacharel
nem aceita título
de doutor
em amor,
pelo que sofreu!
Gosta apenas de falar
de dissertar
sobre a essência
da vida
e diz a qualquer
audiência
que o saber mais profundo
é o acto de amar
no sentido mais lato da expressão!
Amar
dando-se por inteiro
como lume que passou
e deixou braseiro
onde se cozinha
o sentimento!
Amar só por amar
sem ressentimento
sem secretismo de gruta
sem vanglória
sem disputa
e até mesmo sem memória...
Amar o todo
e sua história
de vida, vinda do nada...
Amar o ocaso, a alvorada
o estertor do sofrimento
e do nascer o momento
e a alegria e a dor;
Amar a tarde tranquila
amar o dia que parte
amar toda, toda a arte
na beleza sem limite
amar a quem acredite
que o mundo será melhor
e por conta desse amor
todo o ser pode mudar...
Tanta vez, de amar exausto
deixa o fausto da alegria
e hiberna, dentro do peito...
e fica triste, calado
às vezes acabrunhado
por tanta incompreensão!
Mas se ouve voz amiga
ecoando lá no fundo
deixa a sua prostração
acaba a hibernação
e a gritar libertação
põe-se em marcha
e enfrenta o mundo!...

Maria Mamede

segunda-feira, julho 10, 2006

DESPINDO A ALMA

Eu dispo a minha alma
À tua frente
Num jeito despudor
De entrega feito
Que despir a alma
É o meu jeito
De te mostrar e de pedir
Amor!
E dispo a alma
A alma somente
O corpo, é só um fato
Que vestimos
E quando amamos muito
Desistimos
De pensar nesse fato
Que esquecemos...
Apenas alma e lua
São divinas
Qualidades na mulher plena
E por isso
É que vale a pena
Despir a alma
E deixá-la nua
Aos raios de luar
E de verbena
E ao toque doutra alma
Como a tua!...

Maria Mamede

sábado, julho 01, 2006

PREMONIÇÕES

Tenho o olhar cheiínho de horizontes
No peito aberto eu trago a luz do sol
Em meus olhos, quase verdes, cantam fontes
Mágico enleio da alvorada ao arrebol...

Tenho no ouvido, soluços e gemidos
De dor e de prazer, no cais do tempo
E na voz, cantares antes ouvidos
E gritos de revolta e esquecimento...

Tenho nas mãos o gesto e a paisagem
Desenhos a carvão da outra margem
Retratos de quem eu hei-de ser;

E trago marés, no corpo inteiro
E voo de aves e o beijo primeiro
E vidas, muitas vidas por viver!...

Maria Mamede