domingo, janeiro 25, 2009

OFERTA

Dei-te o "Fio de Prumo"
e um Pião
meu coração desavindo
onde enrolaste uma faniqueira
de passado
baraço de murmúrios
a amarrar o tempo.
Dei-te o Azul
farrapo de esperanças
puídas, gastas
no ontem e no amanhã
que o hoje já não veste.
Dei-te o Mar e o Vazio
que o corpo apregoa
no jeito-garganta
da voz que se despe.
E dei-te Afecto
e o que isso seja
no dicionário incompleto
da vida no fim!...


Maria Mamede

segunda-feira, janeiro 19, 2009

SOU O ÚLTIMO NAVIO

Sou o último navio!

Nem sol nem mar lambendo o casco
nem vento alisando velas...
só noite e demógenes
candeia de lonjura
sulco dorido
na quilha do tempo.

Sou o último navio!

E o cais de acostagem
será o fim e o princípio de tudo!...



Maria Mamede

domingo, janeiro 11, 2009

JÁ DISSE TODAS AS PALAVRAS

Já disse todas as palavras
todas!
As de canto
as de encanto
as de dor
as de amor
as de frio
as de cio
as de sorte
as de morte
e as de vida
dorida, ferida, ferida...
e o que trás
o que faz
o que jaz
sem temor
é um rio
vazio
tão só e tão frio
por falta de amor
todo dor, todo dor...
já disse
e não espero
nem quero
não quero
o desejo dum beijo
em boca promessa
nem ternura com pressa;
não mais a tristeza
não mais a incerteza
não mais a rudeza
de sílaba assim...
não quero palavras
escritas ou ditas
feias ou bonitas
que doem em mim!...


Maria Mamede

domingo, janeiro 04, 2009

NO PRIMEIRO ALVOR

É na cadência do verso
que a noite se demora...
é no ritmo do abraço
que ela se curva
e entontece
e volteia
com seu vestido azul
esquecida da hora
gerando
uma tempestade de estrelas.
Quando chega a madrugada
rende-se
à luz que desponta
e abraçada ao sonho
parte no primeiro alvor!...


Maria Mamede