quarta-feira, fevereiro 21, 2007

É VERDADE O AZUL...

É verdade o azul
no espaço infinito
das coisas aladas...
E o amor a dizê-las
de tantas maneiras
nas bocas fechadas...
É verdade o azul
das coisas dormentes
e tristes da vida
e as sempre ausentes
coisas perdidas
na alma vencida...
É verdade a cor
que o tempo insinua
que no tempo aflora
às vezes amor
que sobe e flutua
e ele leva embora...
É verdade esta dor
de falta, de ausência
de sentir ciúme
e o azul da cor
deste tom demência
que é neve e é lume...
É verdade o azul
no espaço infinito
no eco, no pranto
e esta saudade
que em qualquer idade
cá dentro, dói tanto!...

Maria Mamede

sábado, fevereiro 17, 2007

CARTAS DE AMOR

Sei que há muito te não 'screvo
Sei que há tanto te perdi
E sabendo que não devo
Digo que não, mas escrevo
Desde o dia em que te vi...

E posso lá eu parar
De te escrever meu amor?
Não tenho mão no amar!
Como poderei viver
Um dia, sem te escrever
Se te não posso falar?!

E que futuro haverei
Se não puder escrever
E sem te poder olhar?
Como é qu'eu poderei
Resistir a tanta "lei"
Que teima em nos apartar?!..

Maria Mamede

sábado, fevereiro 10, 2007

SOLIDÃO

...E invento a rosa
a perfumar o quarto
e a madrugada
com lençóis pelo chão
e a luz coada
a dizer que parto
e tu, em meu ouvido
a dizer que não...

...E invento vida
pra nós dois, tolice
e invento beijos
na palma da mão
e invento palavras
que disseste e eu disse
e que bate em nós
um só coração.

...E invento horas
o calor do abraço
e a nostalgia
no tempo vidraça
e invento falares
risos, alegria
nos tristes olhares
da gente que passa!...


Maria Mamede

sábado, fevereiro 03, 2007

OLHAR A CIDADE

Tem o olhar
o doce sopro da musa
em murmúrios ribeirinhos
na magia de sonhos quase perfeitos
e na melodia crescente das sombras...

Tem o olhar
o caminho da paleta
na pintura do rio
à flor da água
e varandas de ocaso
onde a noite se debruça...

Tem o olhar
o Douro e a Cidade
nas saudades do ardina
com cheiro a tinta fresca do jornal
do guarda nocturno
no giro do costume
e dos candeeiros sonolentos
que esperam o romper d'alva...

Tem o olhar a foz
rio que se esvai em mar salgado
nas misturas de sangue
de cores de pele
de palavras ditas...

Tem o olhar
as naus
os lenços brancos d'outrora
e as enchentes de lágrimas
na lonjura das vidas...

Tem o olhar
a cascata
de escarpas e muralhas
na partida e na chegada
e voos
de andorinhas e gaivotas
falando amanhãs!...

Maria Mamede