sábado, fevereiro 28, 2009

CANTIGA DE AMIGO

Quem dera meu cavaleiro
fosse esta a cidade
de muralhas interditas
a tudo que é inimigo...
e que dera meu Amigo
fosse minha, fosse vossa
pra que esta cousa nossa
a pudesse eu ofertar
ao Deus que olha por nós...
como eu queria estar a sós
convosco, ó meu senhor
e quanto bem vos daria...
tudo que em mim principia
é somente um bem-querer
sem conta e sem medida;
por vós eu daria a vida
de bom grado, cavaleiro
só vós sois o amor primeiro
desta dama, que sem vós
morreria no intento
de achar poiso seguro;
só vós sois o escudo, o muro
que me guarda da maldade
só vós e esta cidade
onde vos dei o meu ser;
por isso, se aqui morrer
deixai meu corpo na bruma
pois esta, como nenhuma
é diversa na beleza...
a esta será devida
saudação e romaria
pois que aqui principia
minha chegada e partida...
ó meu senhor cavaleiro
dono do meu coração
dono de mim, em verdade
se eu morrer nesta cidade
dai meu corpo a este chão!...

Maria Mamede

segunda-feira, fevereiro 23, 2009

DECLARAÇÃO

Olá a todos.
Às vezes, tentando mudar o tipo de escrita, acontecem coisas curiosas.
Dessas experiências, nasceu um dia um livro, ainda não publicado, ao jeito de Poesia Trovadoresca, do qual vos dei a conhecer o poema do meu post anterior e este agora.
Como sempre, esperarei as vossas apreciações, abraçando-vos com ternura.

Maria Mamede




DECLARAÇÃO


Aman
meu senhor da nostalgia
rejubila de alegria
meu coração, por vos ver
e meus olhos a seu jeito
é que me saltam no peito
Vossa Mercê pode crer!
Não sei que digo, que faço
se sim ou não vos enlaço
num abraço tão esperado
meu senhor da nostalgia
acha Vossa Senhoria
que amar assim é pecado?!
É o tempo cousa beve
quem dera fosse, ao de leve
pousar na minha janela;
apanhava-o de repente,
Vossa Mercê pode crer
e poria trancas nela!
Depois, era só olhar-vos
e não parar de vos ver!...


Maria Mamede

domingo, fevereiro 15, 2009

MEU AMOR, MEU AMOR

Foste pão da minha fome
foste água da ribeira
foste mágoa, foste nome
foste fogo na lareira...
ai meu amor, meu amor
que esperei a vida inteira...

foste rio, céu de espanto
foste fonte, verde prado
foste bem-querer, foste tanto
foste amante, namorado...
ai meu amor, meu amor
que tempo tão sem cuidado...

foste esperança, foste vida
festa de amor, de carinho
e foste terra esquecida
e eu, pássaro sem ninho...
ai meu amor, meu amor
que perdi pelo caminho!...


Maria Mamede

quarta-feira, fevereiro 04, 2009

POSES

De pé
como uma árvore
ou um desejo
no silêncio das noites
sem sossego
de pé
no sonho
a que me apego
de pé na alma
sou no entanto
um barco na corrente
horizontal e crente
que o amor é luz
e que a viagem
não finda na paisagem
da chegada.
De pé
qual pórtico antigo
resto de borrascas colossais
e ao mesmo tempo
regato languescente
a deslisar
ciente
de que não volta mais!...


Maria Mamede